Carlos Monjardino A pintura de Manuel Amado 1998

Texto referente à exposição:
O Conventinho da Arrábida - Fundação Oriente, Casa Garden, Macau, 1998

A pintura de Manuel Amado, à primeira vista, limpa os espaços dos miasmas da condição humana. Isto é, para mim, uma experiência nova porque sou dos que entendem que tudo tem a marca do homem na terra e que o que ele devia fazer era uma continuação da natureza.

Esta atitude de Manuel Amado é, de certo modo, um atrevimento feliz: procurar comunicar-nos o que há de aproveitável e, já agora, de fascinante, na intervenção da cultura no mundo. As linhas rectas e os círculos são uma invenção humana. A natureza não tem linhas rectas e a própria terra não é redonda: é achatada nos pólos. Manuel Amado vai buscar a todas essas novidades que o homem trouxe pela cultura, o tema principal da sua obra. Nela não há um ser vivo: há, de certo modo, um retrato do trabalho humano, retirado dos seus miasmas, o que equivale quase a uma purificação.

Nesta exposição sobre o Convento da Arrábida parece que ele, naturalmente, fez esse trabalho purificador. Os espaços são demarcados com muita clareza e, ao fazê-lo, parece querer afastar todas as impurezas: uma espécie de «desinfecção» da intervenção humana, como se as paredes, as portas e as janelas tivessem já nascido assim da natureza.

Com esta pintura acredita-se que talvez, um dia, as obras dos homens se mantenham «limpas» como quando foi da sua criação: é uma dupla visão: a do que fizemos e a do que um dia talvez consigamos manter.

É então que o ser humano verá a sua pintura: na evidência de que ele tem uma imensa capacidade de sujar o mundo, que devia ser limpo, como são os quadros que o Manuel Amado pinta.