Muito se tem escrito sobre a pintura de Manuel Amado, sobre as influências que sofreu – Giotto, De Chirico, Magritte ou Hopper – e ainda o silêncio e a quietude dos seus quadros.
Penso porém que também houve dois factores que marcaram a sua obra: a educação que teve e a profissão de arquitecto que exerceu durante mais de 20 anos.
Tive a felicidade de conhecer, em meados dos anos 30, na praia de São Martinho do Porto, Fernando Amado, seu pai, homem de enorme cultura e de grande poder de comunicação. Revejo-o sempre rodeado de jovens, despertando neles não só o interesse pela prática do atletismo, mas também pela literatura e pelo teatro. Se conseguiu, nesses curtos períodos de férias, marcar numerosas gerações, poderemos afirmar com toda a segurança a influência que terá tido na formação do seu filho. O outro factor marcante foi, sem dúvida, a sua profissão de arquitecto. As suas primeiras pinturas provam bem esta minha afirmação.
A precisão, o despojamento, o jogo de luz e sombra dos interiores do palácio onde viveu são bem reveladores do conhecimento da criação de volumes que, apesar da ausência da figura humana, são sempre espaços habitados.
Corajosamente abandona a arquitectura, em 1987, para se dedicar exclusivamente à pintura.
A sua obra torna-se mais rica e variada: estações de caminhos-de-ferro, conjuntos arquitectónicos, praias, paisagens, árvores, são temas que trata com assumida contenção, mas em que os volumes e a luz continuam a ser primordiais.
A obra de Manuel Amado é ímpar no actual panorama da pintura portuguesa contemporânea. Não corre atrás das correntes internacionalistas e como o próprio pintor afirma: «A pintura, para mim, é o modo mais directo que existe de representar a realidade, considerando que a realidade somos nós que a fazemos. Sem interferência da palavra ou sem ficções».
É esta a sua grande sabedoria!