No meu tempo de pintar existe apenas a consciência do esforço de encontrar os sinais luminosos que imitam aquilo que todos nós sabemos sem termos bem a certeza de o saber.
A pintura é um modo de comunicação independente da palavra, sem raciocínios ou axiomas. Faz-se para ser vista, devendo corresponder às altas exigências inerentes à acção de ver.
Foi em África, durante o serviço militar, com saudades das minhas realidades longínquas e empurrado por De Chirico, pelo cinema e pela pintura antiga italiana, que encontrei o princípio do caminho do meu modo próprio de fazer pintura. Desde então o caminho tem sido sempre o mesmo, o meu.
A pintura, para mim, é o modo mais directo que existe de representar a realidade, considerando que a realidade somos nós que a fazemos. Sem interferência da palavra ou de ficções.
Gosto de pintar aquilo que vejo quando estou em sossego, ou melhor, aquilo que me lembro de ter visto quando estava em sossego, para tentar ver melhor, para ter a certeza.