Habituei-me a olhar a pintura de Manuel Amado da mesma maneira que, desde sempre, vejo Lisboa: antes de tudo, uma luz intensa e mágica. A fixar indelevelmente a atenção dos nossos sentidos; depois, as sombras acolhedoras, onde a cidade anicha os pequenos encantos do segredo das suas vidas.
Há coisas simples e quotidianas que nos ajudam a suportar inquietações e a vencer contrariedades.
É um prazer assim que sinto, no meu gabinete de trabalho, ao olhar o óleo em que Manuel Amado fixou uma Rua da Rosa perfeita de harmonia: tranquila, sem as carroças de ontem ou os carros de hoje, onde o sol se deita pelos telhados e rompe pelas esquinas, uma rua que nos chama e volta a chamar com insistência para as suas sombras como regaços e umbrais de porta que são convites a conhecermos toda a gente que a deixa deserta!
Lê-se, por vezes, que Manuel Amado trocou a arquitectura pela pintura. Penso antes que a trouxe para os seus trabalhos, na construção de uma cidade de instantes sem tempo e no registo desses momentos de serena paixão que desejaríamos eternos.
Por tudo isto, é com satisfação acrescida que a Câmara Municipal de Lisboa recebe no Palácio Galveias a presente exposição, de que me arrisco a prever o êxito.
Para que Lisboa seja sempre desejada mais bela. É essa a sua magia…