Bruno Munari1987

Texto referente à exposição:
Railway Stations – The Wilson Center, Smithsonian Institution Building, Washington DC, 1987
Gosto dos quadros do Manuel porque:

– Dão a sensação ao observador de  fazer parte do quadro, de poder dar um passo em frente e entrar no quadro, na estação onde não está ninguém, nem sequer quem deixou a bicicleta lá fora. O comboio está pronto a partir, com a porta aberta. Mas (este é o enigma do quadro) partirá?

– Gosto da densidade da folhagem da árvore que está em frente da estação. Aquela árvore deve estar cheia de pássaros que, a uma certa hora, saem todos esvoaçando e fazem grandes voos no céu da praça da estação.

– O dono da mala está com certeza sentado na outra extremidade do banco e não se vê. A luz reflectida na parede é muito sugestiva.

– A luz ofuscante não permite distinguir a paisagem para além da plataforma.  O carro das bagagens está vazio. O comboio fechado. Ninguém a quem pedir informações.

– O quadro está tão bem pintado que até dá a atmosfera do local, parece que se sente a temperatura e o cheiro característico.

– São 12 horas e 12, a luz do sol ilumina a parede na penumbra, no pequeno lago não há uma pinga de água, no vaso não há nenhuma planta, no banco não está ninguém sentado. Pela linha da sombra diria que estamos no mês de Junho. O comboio tem duas horas de atraso.

Gosto dos quadros do Manuel por tudo o que não se vê mas que se sente, se intui que está nestas pinturas.
Se não te faz sonhar que arte é?